Foto: Divulgação |
This article is available in Portuguese only.
Data de lançamento: 24 de setembro de 1991
Gravadora: A&M / Universal
Logo após as gravações do disco Temple of the Dog (que reuniu integrantes do Pearl Jam e do Soundgarden em homenagem ao falecido vocalista do Mother Love Bone, Andy Wood) e simultaneamente ao registro de Ten, do Pearl Jam, o Soundgarden voltou à ativa para a gravação de seu terceiro disco, Badmotorfinger. Uma das bandas veteranas da cena de Seattle, o Soundgarden já era razoavelmente conhecido em 1991 – contava com estrutura profissional, tinha seu próprio ônibus para turnês e inclusive já havia excursionado pela Europa.
Uma das primeiras bandas da mítica gravadora Sub Pop, o Soundgarden servia de parâmetro para os demais grupos de Seattle da época. Era isso que todos queriam: ter condições de viver da música, gravando e fazendo shows para um público restrito, mas fiel – talvez emplacando um ou outro hit nas rádios universitárias ou em programas da MTV direcionados a fãs de música alternativa. Mas com o novo álbum, as coisas iriam muito além do desejado. O sucesso comercial do disco alavancou a banda a um nível de popularidade impensável um ano antes de seu lançamento.
Gravado entre Seattle e Los Angeles, Badmotorfinger – aliado ao movimento de mercado liderado pelo sucesso do Nirvana na época – foi o tiro certeiro que o Soundgarden precisava para se tornar uma das grandes bandas americanas dos anos 90. Lançado em setembro e impulsionado por porradas como “Outshined”, “Rusty Cage” e “Jesus Christ Pose”, que flertavam com Black Sabbath e com a sujeira característica do som das bandas do noroeste americano, o disco abriu as portas do mundo para o quarteto.
Assim como o Alice in Chains (outra banda do cenário de Seattle no começo dos anos 90), o Soundgarden pouco tinha a ver com a ideia que se fazia de grunge – o som da banda devia muito mais ao jurássico metal dos anos 70 do que ao punk rock e, embora tivesse uma melancolia, um peso e uma vibe similares às das bandas da região, o grupo era muito mais técnico e compunha canções mais elaboradas que as de alguns de seus pares, como Mudhoney, Tad e Screaming Trees. Ainda assim, o rótulo pegou.
Com melodias mais intrincadas que as ouvidas em seus álbuns anteriores – em parte por influência do novo baixista Ben Shepherd – Badmotorfinger é um dos discos definitivos da década e o passo inicial de uma nova fase do Soundgarden, que culminaria no fenomenal Superunknown, lançado três anos mais tarde.
De alguma forma, em Badmotorfinger o Soundgarden encontrou a fórmula perfeita: o vocal agudo de Cornell, aliado ao punch do guitarrista Kim Thayil, à esquisitice do baixista Ben Shepherd e à técnica apurada do batera Matt Cameron atingiram uma maturidade capaz de catapultar as canções a uma qualidade ainda não vista nos registros anteriores da banda.
A regularidade do álbum impressiona – é difícil apontar uma faixa “mais ou menos” em Badmotorfinger. Uma ruim, é literalmente impossível – ao menos para quem aprecia esse tipo de som. E tem música para todos os gostos. Se “Slaves and Bulldozers” pega o ouvinte pelo ritmo mais lento, “Face Pollution” pisa no acelerador. Outros destaques são “Searching With My Good Eye Closed” e as diferentonas “Room A Thousand Years Wide” e “Drawing Flies”, que vão além do arsenal básico de uma banda de rock, agregando instrumentos como saxofone e trompete.
A fase era tão boa que a banda – junto a outros artistas de Seattle – foi convidada a participar do filme Singles (Vida de Solteiro), do diretor Cameron Crowe. Cornell (como artista solo) e a banda ainda lançaram músicas inéditas na trilha sonora do filme, que contou também com outros grupos daquela geração. Tanto o filme quanto o disco foram lançados em 1992 e a trilha sonora foi reeditada em edição deluxe em 2017.
Após lançar mais dois álbuns e anunciar o fim da banda em 1997, o Soundgarden voltou à ativa oficialmente em 2010, lançando o regular King Animal em 2012. Em 2017, a banda se encontra novamente em estúdio para o lançamento de seu sétimo disco de carreira*.
Clique aqui para ouvir o álbum gratuitamente no Spotify
Publicado no livro 1991: 25 textos em celebração aos 25 álbuns clássicos do rock e da música pop, disponível na Amazon.
*Texto escrito antes do falecimento do vocalista Chris Cornell, em maio de 2017.