Entrevista: Pedro Verissimo
Foto: Bruno Maestrini |
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PELOTAS, RS - "Cara, só vou ali pegar uma cerveja e a gente já conversa". Assim, de forma descontraída, Pedro Verissimo aceitou bater um papo com a Projeto Casulo e falar um pouco sobre sua banda, a Tom Bloch, que em poucas horas tocaria pela primeira vez em Pelotas. Enquanto isso, seus companheiros acertavam o som para a apresentação, que era uma das mais esperadas da noite.
Aliás, o barulho não permitiu que Pedro começasse a falar antes. Sentado numa das mesas da Toronto (casa shows onde ocorria o festival Uns Rock), o músico não conseguia ouvir as perguntas, e o repórter não entendia as respostas. "Vou ali terminar de passar o som, com esse barulho não vai dar mesmo". Sem problema. Pedro sobe no palco e a banda toca duas canções de seu primeiro álbum, intitulado simplesmente Tom Bloch: "O Amor Zero Sobrevivente)" e "Carbonos Perfeitos". Ali já deu pra sentir que a apresentação dos porto-alegrenses seria um dos pontos altos do Uns Rock.
Com o clima um pouco mais tranquilo e silencioso, Pedro fala sobre a banda com segurança, plenamente consciente dos objetivos de seu trabalho. O estrelato não parece ser o ponto principal, a força que move a Tom Bloch. Criar com liberdade, sim. "A gente não tenta fazer música pra agradar a todo mundo, e sim fazer algo de que a gente se orgulhe", afirma o vocalista. Talvez esse seja o caminho para se criar um som tão original.
É comum encontrar nos textos relacionados ao grupo frases e mais frases sobre como a Tom Bloch não parece com nenhuma outra banda. O som agrega guitarras barulhentas, provenientes do gosto por bandas-chave do chamado indie rock, como Pixies e Weezer, com elementos eletrônicos e experimentações com computadores, além da voz peculiar e das letras criativas de Pedro. Mas ele não senta para compor pensando em criar a música mais original já feita. Para o músico, "mais importante que ter originalidade é ter personalidade".
Mesmo assim, comparações existem. E não falta gente querendo desvendar o emaranhado de sons diferentes que influencia a Tom Bloch. "Muita gente nos compara a bandas como Radiohead e outros grupos ingleses", diz Pedro. "Acho que isso se deve ao fato de ouvirmos mais ou menos as mesmas coisas que eles, como David Bowie e T-Rex. Não sei exatamente o gosto pessoal desses caras, mas há coisas dos anos 80 das quais não dava pra escapar, como The Cure e Smiths, por exemplo."
Com tantas influências estrangeiras, teria sido mais fácil compor as músicas em inglês. Mas a Tom Bloch não abre mão do bom e velho português, que se encaixa perfeitamente em suas canções. Pedro, filho do escritor Luis Fernando Verissimo e neto de Érico, defende a língua pátria. "Eu falo português. Agora mesmo, estou dando essa entrevista pra ti, e ela é em português. Não tem por que, na hora de subir no palco, eu me transformar em outra coisa", analisa o músico. Mas ele não nega que muitas bandas nacionais não conseguem soar bem devido aos vocais. Não que isso tenha algo a ver com as letras.
Para o vocalista, isso é mais um problema técnico do que linguístico. No rock nacional, a voz é mixada sempre muito acima dos instrumentos. "É o que eu chamo de síndrome do jingle", brinca Pedro. "A voz é um instrumento como qualquer outro na banda, e deve ser usado para causar sensação. O peso da guitarra e a pressão da bateria são tão importantes quanto os vocais".
A Tom Bloch parece ser uma banda bastante inspirada — e inspiradora, diriam alguns. Mas o que mais inspira a banda, além de música? "Tudo é inspiração", afirma Pedro. "Nessa Casa", a primeira canção do álbum, por exemplo, é baseada no conto "A Casa Assombrada", de Virginia Woolf. E o cinema também faz parte do caldeirão de influências do grupo. "Estamos fazendo uma música nova agora, e sempre que a tocamos eu falo pro pessoal: 'lembrem da Estrada Perdida', filme do David Lynch que eu gosto muito. Pra mim a música poderia ser a trilha do filme".
Hmm, músicas novas? E já tem previsão de quando vão entrar em estúdio pra gravá-las, ou ainda é muito cedo para isso? "Já estamos pensando nisso, sim", revela Pedro. Mas por enquanto a Tom Bloch ainda têm algumas apresentações agendadas. Em agosto, a banda pretende fazer um show diferente, com interpretações visuais das canções sendo projetadas atrás do palco. "É uma coisa um pouco pretensiosa, mas no bom sentido", explica.
E enquanto o novo disco não vem, Pedro continua ouvindo música, mas se complica na hora de dar dicas. "O que eu ando ouvindo? Deixa eu pensar. É difícil, eu ouço muita velharia", diz o músico. "Mas acompanho também a cena atual. Gosto dos Strokes, gosto dos White Stripes. Acho que eles trouxeram de volta uma crueza que estava fazendo falta ao rock. É um som meio largado, mas que também tem uma certa sofisticação".
Para finalizar o papo, Pedro fala sobre o futuro da banda. "Queremos continuar tocando, fazer mais shows, pois somos um pouco preguiçosos nesse sentido. Podemos melhorar ao vivo e pra isso temos que tocar. Quanto mais tu tocas, melhor tu ficas. A prática faz a perfeição".
Cobertura do festival de música Uns Rock, publicada na revista online Projeto Casulo (Maio/2003)
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