Dorival Júnior: trabalho, disciplina e observação

by - 9/20/2018

Foto: Leonardo Tissot


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SANTOS, SP - Campeão Paulista e da Copa do Brasil em 2010 como treinador do Santos, o ex-volante Dorival Silvestre Júnior é um trabalhador. Mesmo liderando uma das gerações recentes mais talentosas do Brasil – com craques como Neymar, Paulo Henrique Ganso, André e Robinho – o técnico acredita que o verdadeiro diferencial para o sucesso de seu clube é o comprometimento e o foco em atingir resultados. Confira, nesta entrevista exclusiva para a Revista Ligado da AES Brasil, um pouco do que pensa o treinador nascido em Araraquara (SP), e que é uma das maiores revelações brasileiras dos últimos anos.



A sua experiência prática é no campo, mas você acredita que gerir uma equipe de futebol pode ser similar à gestão empresarial? Quais são as principais semelhanças que você observa nos dois segmentos?

As semelhanças são reais. Eu costumo dizer que o treinador de futebol é um gerenciador de problemas. No dia a dia, convivemos com um grupo, e os problemas são muitos. A maioria é solucionável no curto prazo. Outros, que vêm de fora para dentro, são um pouco mais difíceis, até porque são problemas muito expostos, todo mundo fica sabendo. É fundamental trabalhar como uma equipe e prezar, acima de tudo, pela disciplina.

Um colaborador de uma empresa (ou jogador em um clube) pode ser mais talentoso do que outro. Você está liderando a geração mais festejada do futebol brasileiro em muitos anos. É necessário algum trabalho especial para que esses craques não entrem em campo de “salto alto”?

Não é preciso um trabalho especial, mas sim estar atento a todos os detalhes, sempre ligado ao que está acontecendo. O futebol não é simplesmente ir a campo e treinar. O esporte envolve minúcias, o dia a dia é muito trabalhoso e delicado. As pessoas, muitas vezes, não se dão conta de tudo o que acontece dentro de uma equipe de futebol. Os jogadores devem estar sempre muito focados, independentemente do talento e fama.

Qual a importância do elogio e da cobrança? O excesso de um ou de outro pode atrapalhar?

O elogio moderado, feito aos poucos, é bom. Já a crítica, é preciso saber como fazer. Muitos profissionais do futebol vêm de classes menos favorecidas, os atletas não têm uma base, e mesmo os que têm sentem muito, porque estão expostos ao olhar do público e da mídia. As opiniões vão do céu ao inferno em questão de horas, se modificam completamente. O jogador que é muito elogiado acaba entrando em uma “zona de conforto”, o que pode prejudicar. Aquele que é muito criticado precisa de uma mão, de alguém que o mantenha motivado.

 Também é papel do treinador dar essa base para os jogadores?

Sem dúvida, é preciso conhecer o máximo possível de detalhes do grupo, para sentir o que eles estão sentindo e ter condições de ajudar o atleta a alcançar seu potencial máximo, mesmo em um momento negativo. O treinador precisa administrar todas essas situações pelo bem do time.

De estagiário a diretor de empresa, um longo caminho precisa ser percorrido. De jogador a treinador também. O que você aprendeu na época de atleta que lhe é útil na sua carreira atual?

Eu sempre procurei observar muito os profissionais com quem trabalhei. Busquei extrair o que eles tinham de bom e analisar os aspectos em que eu gostaria que o treinador fosse melhor. Tentei me preparar o máximo possível para exercer essa profissão. Os meus últimos cinco ou seis anos como jogador me ajudaram muito. Minha passagem como atleta foi, muitas vezes, como capitão de equipe, o que me deu esse senso de liderança em campo. O futebol demanda um estudo contínuo, você vai melhorando e crescendo a cada momento, mas depende muito do poder de observação.

Entrevista publicada em 2010, na Revista Ligado, da AES Brasil.

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